Jul 12, 2012

LSD : Planear uma sessão

Timothy Leary (1920-1996)

Tendo lido esse manual preparatório, uma pessoa pode imediatamente reconhecer os sintomas e experiências que podem de alguma forma ser amedrontadoras, apenas pela falta de entendimento. O reconhecimento é a palavra chave. Reconhecer e localizar o nível de consciência. Esse livro guia pode também ser usado para evitar as viagens paranóicas ou para reganhar a transcendência se ela foi perdida. Se a experiência começa com luz, paz, unidade mística, entendimento e continua por esse padrão, então não há necessidade de se lembrar do manual ou têlo relido para ti. Como um mapa de estradas, consulte-o apenas quando sentir-se perdido ou quando quiseres mudar o curso.

Tenha Objectivos


O Hinduísmo clássico sugere 4 objetivos possíveis:

1. Crescimento do poder pessoal, entendimento intelectual, insight nítido dentro de si e da cultura, melhora da situação de vida, aprendizado acelerado e crescimento profissional.

2. Dever, ajudar ao próximo, prover cuidado, reabilitação, renascimento para companheiros.

3. Diversão, gozo sensorial, prazer estético, proximidade interpessoal, experiência pura.

4. Transcendência, liberação do ego e dos limites de espaço-tempo; atingimento da união mística.

A primeira ênfase do manual no último objectivo não impossibilita os outros — na verdade, garante seu atingimento porque a iluminação requer que a pessoa esteja hábil a ultrapassar os problemas de personalidade, papel e status
profissional. O iniciante pode decidir de antemão a devotar sua experiência psicadélica a qualquer um dos 4 objectivos.
Na experiência extrovertida transcendental, o “self” é extasiantemente fundido com os objetos externos, como flores ou outras pessoas. No estado introvertido, o “self” é extasiantemente fundido com os processos internos de vida — luzes, ondas de energia, eventos corporais, formas biológicas. Cada estado pode ser negativo ao invés de positivo, dependendo da preparação individual e do ambiente.
Para a experiência extrovertida, a pessoa deve trazer velas, fotos, livros, incensos, música ou passagens gravadas para guiar a percepção na direcção desejada. Uma experiência introvertida requer a eliminação de qualquer estimulo — sem luz, sem som, sem cheiro, sem movimento.
Se muitas pessoas estão na sessão juntos, eles devem pelo menos estar conscientes dos objetivos de cada um. Manipulações inesperadas e indesejadas podem facilmente se tornar armadilhas para os outros viajantes em delusões
paranóicas.

Preparação

Químicos psicadélicos não são drogas no senso usual da palavra. Não há uma reacção somática ou psicológica específica. Quanto melhor é a preparação, mais extasiante e reveladora é a sessão. Nas sessões iniciais com pessoas despreparadas, preparação pessoal e ambientação — particularmente as acções alheias — são mais importantes.
A preparação pessoal se refere à história pessoal, tolerância da personalidade, ao tipo de pessoa que você é. Seus medos, seus desejos, seus conflitos, culpas, paixões secretas, determinam como você interpreta e manuseia qualquer experiência psicadélica.
Talvez o mais importante sejam os mecanismos de reflexo, as defesas, manobras protectoras tipicamente empregadas quando lidando com a ansiedade. A flexibilidade, a confiança básica, a fé filosófica, a coragem, o calor interpessoal, a criatividade a permissão para a diversão e o fácil aprendizado. A rigidez, desejo de controle, desconfiança, cinismo, covardia, frieza e a limitação fazem qualquer situação ser ameaçadora.
O mais importante é o insight. A pessoa que tem qualquer entendimento de sua própria máquina, que pode reconhecer quando está ou não funcionando como deseja é mais hábil a adaptar-se a qualquer novo desafio — até o colapso abrupto de seu próprio ego.

Preparação Imediata

A preparação imediata se refere às expectativas sobre a sessão por si só.
As pessoas naturalmente tendem a impor suas perspectivas pessoais e sociais em qualquer nova situação. Por exemplo, alguns sujeitos doentes e preparados inconscientemente impõem um modelo médico na experiência. Eles procuram
sintomas, interpretam cada nova sensação em termos de doença/saúde, e, se a ansiedade se desenvolve, demandam por tranquilizantes.
Ocasionalmente, sessões planejadas com doentes terminam com o sujeito pedindo para ver um médico. A rebelião contra a convenção deve motivar algumas pessoas que usam a droga. A ideia ingénua de fazer algo “longínquo e externo” ou vagamente impróprio pode obscurecer a experiência.

Desligue a sua Mente

O LSD oferece vastas possibilidades para o aprendizado acelerado e pesquisa científico-escolar, mas para sessões iniciais as reacções intelectuais podem se tornar armadilhas. “Desligar a sua mente” é o melhor conselho para noviços. Depois de você ter aprendido a como mover a sua consciência de um lado a outro — dentro e fora da perda do ego, à vontade — então exercícios intelectuais podem ser incorporados à sua experiência psicadélica. O objectivo é o de te libertar da mente verbal o quanto for possível.
As expectativas religiosas chamam ao mesmo conselho. Novamente, o sujeito nas primeiras sessões é aconselhado a flutuar na corrente, se manter “ascendente” até o possível e a adiar interpretações teológicas.
Expectativas recreacionais e estéticas são naturais. A experiência psicadélica provém momentos extasiantes que diminuem qualquer jogo cultural ou pessoal. A sensação pura pode capturar a percepção. A intimidade interpessoal
atinge alturas do Himalaia. Deleites estéticos — musicais, artísticos, botânicos, naturais — são elevados ao poder milionésimo. Mas reacções de jogos de ego — “Estou tendo este ecstasy, Que sorte eu tenho!” — podem impedir o sujeito de atingir a perda pura do ego.

Organizando

O sujeito deve reservar pelo menos 3 dias — um dia antes de sua experiência, o dia da sessão e um dia seguinte. Essa organização garante a redução da pressão externa e um comprometimento mais sóbrio. Falar com pessoas que já fizeram a viagem é uma ótima preparação, contudo a qualidade alucinatória de todas as descrições deve ser reconhecida.
O dia depois da sessão deve ser reservado para deixar a experiência correr em seu curso natural e permitir um tempo para reflexão e meditação. Um retorno apressado a envolvimentos com os “jogos” com certeza irão manchar a claridade
e reduzir o potencial para o aprendizado. É muito útil para um grupo permanecer junto depois da sessão para dividir e trocar experiências.
Observe uma Sessão

Observar uma sessão é outra preliminar muito válida, ler livros sobre a experiência mística e de outras experiências também é uma possibilidade. Aldous Huxley, Alan Watts e Gordon Wasson escreveram óptimos contos, por exemplo.

Meditação

A meditação é provavelmente a melhor preparação. Aqueles que gastaram tempo na tentativa solitária de controlar a mente, de eliminar o pensamento e atingir altos estágios de concentração são os melhores candidatos para uma sessão psicodélica. Quando a perda do ego ocorre, eles reconhecem o processo como um ansioso e esperado fim.
Ambiente

Primeiro e mais importante: provenha um ambiente removido dos usuais jogos interpessoais, e o mais livre possível de distracções e intromissões inesperadas. O viajante deve ter certeza de que ele(a) não será perturbado; visitantes ou ligações telefónicas vão freqüentemente produzir um choque na actividade alucinatória. Confiança no que está em sua volta e, privacidade são necessárias.

Hora do Dia

Muitas pessoas sentem-se mais confortáveis na noite, e conseqüentemente suas experiências são mais profundas e ricas. A pessoa deve escolher a hora do dia que parece correcta. Mais tarde, ele(a) deve desejar vivenciar a diferença entre sessões nocturnas e diurnas. De maneira similar, jardins, praias, florestas e locais abertos em geral têm influências específicas que a pessoa pode ou não desejar. O essencial é sentir-se o mais confortável possível, ainda que no quarto de alguém ou sob o céu nocturno.
Imediações familiares podem ajudar a pessoa a sentir-se confiante nos períodos alucinatórios. Se a sessão for ministrada “indoors”, a música, iluminação, a disponibilidade de comida e bebida deve ser considerada antes. A maioria das pessoas reporta não sentir fome durante a altura da experiência, e logo após preferem comidas simples como comida, queijo, vinho e frutas frescas. Os sentidos estão bem abertos e o sabor e cheiro de uma laranja fresca são inesquecíveis.

Viagens em Grupo

Em sessões em grupo, as pessoas normalmente não vão sentir vontade de andar ou se mover muito por longos períodos, e ainda camas e/ou esteiras devem ser providas. Uma sugestão é colocar as cabeças das camas juntas numa forma
de estrela. Talvez uma pessoa queira colocar algumas camas juntas e manter uma ou outra a alguma distância a partir de alguma outra pessoa que deseje permanecer de lado por um tempo. A disponibilidade de um quarto extra é desejável para alguém que queira estar em isolamento.

O Guia Psicodélico


Com a mente cognitiva suspensa, o sujeito está em um estado altíssimo de sugestionabilidade. Para sessões iniciais, o guia possui um enorme poder para mover a consciência com a reacção ou gesto mais delicados.
A chave aqui é a habilidade do guia para desligar seu próprio ego e jogos sociais, necessidades de poder, e medos — para estar lá, relaxado, sólido, aceitando, seguro, para sentir tudo ou não fazer nada excepto deixar o sujeito saber sua prudente presença.
Uma sessão psicadélica dura mais de doze horas e produz momentos de reactividade intensos. O guia nunca deve estar entediado, ser falador, “intelectualizante”. Ele(a) deve permanecer calmo por longos períodos de mente vazia. O guia é o controlador do chão, sempre lá para receber mensagens e questões das aeronaves extra-espaciais, pronto para ajudar a navegação para seu curso de atingimento do destino.
O guia não pode impor seus próprios jogos ao viajante. Pilotos que tem planos de vôo diferentes — seus próprios objectivos — são reanimados a saber que um “expert” está lá embaixo, disponível para ajuda. Mas se o controle do chão é chato e fechado em seus próprios motivos, manipulando o avião entre seus objectivos egoístas, o laço de confiança e segurança esmigalha-se.

Ética


Administrar psicadélicos sem experiência pessoal é anti-ético e perigoso.
Nossos estudos concluíram que quase toda reação negativa ao LSD foi causada pelo medo do guia, que aumentou o medo transiente do sujeito. Quando o guia age para se proteger, ele(a) comunica seu próprio interesse. Se o desconforto momentâneo ou confusão acontecerem, os outros presentes não devem ser compreensivos ou mostrarem alarde, mas ficarem calmos e reprimir seus “jogos de ajuda”. Em particular, o papel de “doutor” deve ser evitado.

O guia deve permanecer passivamente sensitivo e intuitivamente relaxado por muitas horas — um acordo difícil para a maioria dos ocidentais. A maneira mais correcta de manter um estado de quietude alerta, contrabalanceado em uma flexibilidade pronta, é o guia tomar uma baixa dose do psicoativo com o sujeito. O procedimento de rotina é ter uma pessoa treinada participando da experiência, e um membro do pessoal presente sem assistência psicadélica. O conhecimento que um guia experiente está “avançado” e mantendo a companhia do sujeito é de valor inestimável—a segurança de um piloto treinado voando na ponta da sua asa; a segurança do mergulhador na presença de uma companhia “expert”.

Timothy Leary
leia também: A Experiência Psicodélica - Um manual baseado no Livro Tibetano dos Mortos

 

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